Sobre Aurélie

Desde que me lembro, sempre cantei... jazz com meu pai ao piano, variedade nas longas viagens de carro, músicas de Michel Legrand antes dos filmes de Jacques Demy...

Sempre escrevi também. Meu caminho me levou primeiro ao cinema. No início pela parte de produção, por trás das câmeras porque queria entender como se fazia um filme, um pouco como investigar a receita de um bom prato. E então para escrever. Queria contar histórias, com começo, meio e fim. Eu queria ser emocionado e emocionado. Um pouco como no palco… E aí meu caminho cruzou o do Brasil. Foi quando eu tinha 14 anos, na casa de uma amiga que nasceu lá por acaso e que tinha discos de Chico Buarque e Vinicius de Moraes tocando repetidamente em seu toca-discos de vinil. O “Cálice” do Chico é uma das minhas lembranças mais marcantes…

Mais tarde veio o encontro com Eduardo Lopes. Foi no Crest, no festival de jazz vocal, e fiquei literalmente atraído pela atmosfera que emana desta música. Não entendi nada das letras, mas tive a sensação de que seus autores me entendiam melhor do que ninguém. Não me enganei... Desde aquele momento, mergulhei de todo o coração nesta música, nesta língua, nesta cultura, como se encontrasse uma família, uma história, uma memória.

Durante minha primeira viagem através do oceano, permaneci em silêncio. Eu conseguia entender trechos de conversas quando eles pegavam palavras emprestadas de letras de músicas que eu conhecia. Depois, de volta à França, estudei gramática e conjugações. Tudo se encaixou como mágica na minha cabeça. A vida continuou então a guiar meus passos rumo a esta terra. Trabalhei lá para escrever um guia de viagem para as edições da Hachette e pude viajar por todo o Nordeste. Dos cantos de Salvador aos Lençóis Maranheses passando pelo interior do Ceará. Ao continuar a escrever para documentários para cinema ou televisão, senti uma necessidade cada vez mais forte de cantar esta música em palco, para dar um pouco da felicidade que ela me trazia no dia a dia.

Comecei a me apresentar em 2005 com o YEMANJA'ZZ, meu primeiro grupo. Foi com Emmanuel Heyner na guitarra, Caio Mamberti na percussão e Marc Israel no baixo. Gravamos um primeiro EP de 6 faixas com covers e minha primeira música com música de Virginie Henry.

E aí o encontro com Verioca foi decisivo. Comecei a escrever sobre a música dele, ainda escrevendo minhas histórias sobre ela, mas desta vez em música. Com a alegria de poder cantá-los e oferecê-los ao público sem esperar... Muitos professores me acompanharam no caminho da minha voz... Yaël Benzaquein foi o primeiro, depois Daniella Barda, Isabelle Carpentier, Laurence Saltiel, Aïcha Redouane, mais recentemente Géraldine Ros… Eduardo Lopes claro que me abriu as portas para toda a música do Brasil. Felipe Abreu que me acompanhou em cada uma de minhas viagens ao Rio no caminho dos altos padrões e de um sotaque que ao mesmo tempo respeita o idioma sem negar minhas origens.

E depois Laurent Mercou que me apresentou o estúdio de variedades onde me formei como professora de canto com pessoas maravilhosas como Sarah Sanders, Claudia Philips, Gislaine Lenoir e muitas outras... Muitos cantores e cantoras que me adoraram também me orientaram: Chet Baker, Elis Regina, Mônica Salmaso, Maurane, Mônica Passos.

Eles me mostraram que o único caminho possível é o da sinceridade. Graças a eles !

Aurélie